sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Quem dá mais por Obama?



Sílvio Lanna


A eleição de Obama provocou um estado global de euforia. Até mesmo em nossos provincianos recônditos houve quem comemorasse efusivamente sua posse.


Correspondendo à expectativa gerada, o presidente americano não fez por menos. Tocou de uma só vez em três feridas abertas nos costados da sociedade americana: em 16 de novembro de 2.008 (doze dias após sua vitória) disse ao prestigiado programa "60 minutes", da rede CBS, que pretendia retirar as tropas americanas do Iraque, melhorar a situação no Afeganistão (relativamente à questão política e aos soldados americanos) e, ainda, fechar a prisão de Guantánamo em um ano.


Faltam aproximadamente sessenta dias para que Obama atinja seu primeiro ano de mandato e, como se pode facilmente perceber, nenhum dos três objetivos caminha para a efetivação por sua expressa participação. Vejamos:


A saída das tropas americanas do Iraque está prevista para ocorrer paulatinamente até 30.12.2011. Isto por força de um acordo firmado no final de 2.008 pelo presidente Bush. Recentemente, em reunião com o Primeiro Ministro iraquiano, foi mantido o cronograma original, ou seja, se depender do atual governo americano as tropas não baterão em retirada nem um dia mais cedo.


O Afeganistão: O mês de outubro trouxe terrível notícia aos EUA relativamente à sua permanência naquele país: a morte de 53 soldados, recorde negativo desde 2.011, quando em agosto morreram 51 militares. O presidente Obama oscila entre a opinião pública americana, contrária ao aumento do efetivo militar e seus assessores, que defendem o envio de mais 40.000 soldados, que se somariam aos 68.000 que já se encontram no Afeganistão.


Junta-se à sua rede de dilemas também a recente premiação com o Nobel da paz que, segundo a academia sueca, tem a função de incentivar a responsabilidade do presidente americano com decisões pacíficas e pacifistas.


Guantánamo, território que fica no extremo da ilha de Fidel, em sentido oposto ao de Havana, tem a posse garantida pelo governo americano por força de acordo firmado com dirigentes cubanos em 1.903 e posteriormente renovado. Como não há limite temporal, prevê-se que o domínio de tio Sam sobre aquele pedaço socialista seja eterno, a custa de pagamento anual sistematicamente recusado por Castro.


A utilização que os EUA lhe fazem é absolutamente incompatível com seu alardeado sentimento democrático. Para lá vão - e costumam permanecer indefinidamente - prisioneiros que não têm direito a advogados, não estão protegidos por qualquer legislação, não podem receber visitas de qualquer espécie, não possuem provas constituidas de sua culpa, sofrem contínuas e humilhantes torturas, não se classificam como prisioneiros de guerra (mas também não são tidos como presos comuns), enfim, formam um contingente de pessoas apartado do resto do mundo, dominados pelo bel prazer de seus carcereiros.


Tais acusações não são feitas pelo Partido Republicano (até porque foi o responsável por tal estado de coisas) ou por qualquer outro adversário político de Obama. Os acusaadores são duas entidades respeitabilíssimas em nosso mundo: a Cruz Vermelha e a Humans Rights.


Nesta semana o presidente já admitiu que o prazo de um ano para a desativação de Guantánamo não será cumprido, ou seja, a prisão não estará desativada em 22 de janeiro próximo. Não foi estipulada outra data.


Concluímos que Obama - cuja popularidade recentemente já baixou dos 50% - enfrenta alguns problemas relativamenteà afirmação do poder que lhe foi atribuído, além de arranhões na esperança que lhe foi depositada.


Isto nos leva a concluir que ele não representa, na realidade, a mudança que lhe foi atribuída. Cercado por um secretariado conservador para os padrões do Partido Democrata e portador de menor carisma que seu correligionário antecessor, Bill Clinton, não conseguiu demonstrar nesta reta inicial do mandato que é realmente uma novidade a ser celebrada.


Não devemos chegar ao extremo de afirmar, coo fez Ayman al-Zawahiri, número dois na hierarquia da Al-Qaeda, que ele é "um negro doméstico". Afinal, sua eleição foi realmente uma vitória sobre o sólido racismo americano e representou - e ainda representa - uma esperança sempre benéfica.


Verdade seja dita, entretanto, os apostadores mais inflamados sofreram alguma decepção com o objeto de suas apostas. Talvez o "quem dá mais" de hoje em dia represente menor interesse e menos entusiastas dispostos a arriscar.



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