sábado, 21 de novembro de 2009

A censura e a burrice

Sílvio Lanna

21 de novembro de 1968.

Há quarenta e um anos o marechal ditador Artur da Costa e Silva promulgava a lei nº 5.536, que dispunha sobre a censura de obras teatrais e cinematográficas e criava o Conselho Superior de Censura.

Pouco tempo depois, em 13 de dezembro, outra página negra ofuscava o país: o AI-5.

Já se disse muito que a censura é, em essência, burra.

É burra por parte do censor que, imerso em sentimentos autoritários julga-se capaz de dizer o que é ou o que não é bom para a cultura nacional. Esse simples pensar denota impenetrável burrice e densa incapacidade de enxergar-se a si próprio no contexto da inteligência nacional.

É burra também por parte dos que a aceitam, uma vez que estão admitindo sua incapacidade de escolher por si mesmos e por seus filhos, a quem caberia educar.

É burra também conceitualmente, uma vez que homens diferentes têm diferentes crenças religiosas e orientações políticas.

É bom que nunca nos esqueçamos da Santa Inquisição, que nada mais era que uma forma extremada de censura que levou milhares às fogueiras.

Também é bom mantermos vívida a memória dos anos da ditadura militar brasileira, quando as torturas eram o remédio prescrito em nome de outra forma de censura.

No aspecto moral, mais ainda, as diferenças entre os indivíduos são abissais (basta que nos lembremos do episódio da Uniban, onde a turba enfurecida pela visão de um par de pernas femininas quase provocou um linchamento).

Rememorar 21 de novembro pode não ter por si só muita utilidade.

Que sirva, entretanto, para nos lembrarmos de como é fácil submeter uma nação aos desígnios de uma pequena porção de indivíduos recalcados, ignóbeis e incapazes de enxergar que a cultura é a carteira de identidade de um povo. E, mais ainda, que não há cultura ruim ou cultura boa.

Há, sim, a que quero para mim e para os meus e aquela que excluo do nosso cotidiano por livre e espontânea vontade.



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