sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Mais uma vez...


Sílvio Lanna


Mais uma vez...
Como se eles estivesse determinados a testar nossa paciência (ou nossa indolência).

Não se contentam em mentir, expelir promessas vãs e aboletar-se em seus confortáveis tronos com ares de realeza.

Também não se constrangem em trabalhar quando muito no miolo da semana, como quem se desfaz das cascas de uma fatia de pão de forma.
Não dão a mínima para a fidelidade, como se partidos fossem pinguelas de que se utilizam para pular de margem a margem assim que seus peculiares interesses os orientem.
Também não se preocupam em prestar contas da lista de verbas a que fazem jus, sob o nome de vencimentos, verbas de gabinete, auxílio moradia, passagens aéreas, combustíveis, correios, telefones, publicações, décimo quarto e décimo quinto salários, dentre outros. Afinal, mantêm consigo a chave do cofre.
Nem se tocam quando elevam seus próprios salários e verbas, mesmo após haver negado o mesmo privilégio a seus sofridos eleitores. Convenhamos, vivem no Olimpo e nós, míseros mortais...
Também desejam manter intocável a caixa preta do financiamento eleitoral (e do respectivo caixa dois). Afinal, devem imaginar que seja assunto do interesse privado de financiadores e financiados.
Não gostam ainda que nós, os alienígenas, coloquemos o dedo em seus domínios. Estão se lixando para a opinião pública, já disseram abertamente. À primeira aproximação nossa suspendem a ponte levadiça e expõem o fosso intransponível que nos mantém a confortável distância de seu feudo.
Divergências políticas? Estas são tratadas em seu próprio meio e albergadas pelo eficiente sistema de proteção mútua destinado aos que são pegos com a boca (ou as mãos) na botija de nosso caro dinheirinho. Que o digam Sarney, recentemente, e tantos outros no desenrolar da história política.
Não bastasse tudo isto, ainda têm que furtar, manipular, corromper-se? Por que?

E ainda escolhem as maneiras mais vis, porcas e ridículas, como tem noticiado a imprensa.
Por que tem faltado caráter e honestidade? Será que é pela certeza de que nos manteremos indolentes? Ou será porque, no fundo, o crime compensa? Afinal, com tantos milhões no bolso, que bandido se importará com questões menores?
Fico pensando como é que essa gente encara os vizinhos, a atendente da loja, o caixa do banco, enfim, todas aquelas pessoas que podem até não expressar sua opinião a respeito, mas que pensam, pensam... e que se envergonham no lugar dos que não têm mais vergonha na cara para se ruborizar.

E os honestos, os que fazem jus à representação que lhes foi confiada e à esperança que lhes foi depositada? Devem estar envergonhados por seus colegas, mas podem fitar os filhos nos olhos na convicção de que lhes estarão legando a única herança que realmente vale algo: a dignidade.

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