quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Política made in USA

Sílvio Lanna
Este blog não se destina à crítica cinematográfica e nem possuo competência para exercê-la. Mas há momentos em que a sensibilidade pode substituir a técnica e acho que não faz mal eu comentar Wag the Dog (bem mais coerente que o título em português "Mera Coincidência").
Estrelado pelos sempre brilhantes Dustin Hoffman e Robert de Niro o filme vai ao âmago das manobras políticas americanas, explorando a máxima "os fins justificam os meios" tão utilizada nas intervenções externas daquele país.
Traça ainda uma radiografia do aparato tecnológico e da hipocrisia que cercam as campanhas presidenciais, fazendo-nos perceber a verdadeira democracia made in USA.
Trata-se, obviamente, de uma obra de ficção, mas durante todo o tempo identificamos fatos reais similares, fazendo-nos crer que Wag the Dog é um verdadeiro painel da realidade.
Vêm-nos à mente então diversos episódios que, pela semelhança com aqueles tratados no filme, devem mesmo ter sido conduzidos daquela forma.
Imperdível para quem deseja conhecer um pouco melhor o american way of politics.

A maldade humana


Sílvio Lanna
Nesta quarta-feira o mundo civilizado comemorou sessenta e cinco anos do fim de um dos maiores símbolos da intolerância humana: Auschwitz e sua fábrica de torturas e de assassinatos.
Historiadores divergem quanto ao montante de prisioneiros que lá foram exterminados, mas é razoável considerarmos que terá superado a cifra de um milhão. Embora a imensa maioria tenha sido constituída de judeu, o regime nazista também eliminou ciganos, intelectuais de diversas orientações e portadores de deficiências, entre outros.
Os horrores foram de tal monta e tão intensamente difundidos que torna-se desnecessário renovar sua descrição.
Importa-nos realmente a lembrança da data para que jamais nos esqueçamos do que é capaz o ser humano, animal pensante orgulhoso de sua evolução, mas autor de práticas abomináveis.
Auschwitz não foi somente um local onde os prisioneiros da barbárie conheceram a fome, a tortura e as doenças. Nem mesmo resume-se às câmaras de gás e aos fornos crematórios, ícones da brutalidade racional.
Auschwitz é a viva constatação de que os homens podem a um só tempo avançar na tecnologia e retroceder nos sentimentos, crescer materialmente e minguar em espírito.
Muito se fala na culpa de um ditador doentio que desejava apagar seus próprios traumas e dominar a Europa. Mas, reflitamos: o que teria sido de Hitler se não houvesse conseguido apoio popular? Como ele poderia exterminar tanta gente se seus milhões de compatrioras não o houvessem apoiado?
Em episódios de tal magnitude não há culpa individual. Nuremberg fez justiça relativamente aos maiores responsáveis, mas não pode ser considerado o tribunal que julgou e condenou os horrores. Estes também foram cometidos por todos quantos se calaram, se omitiram ou fingiram não acreditar em sua veracidade. Todos esses, sem exceção, deveriam ter sido expurgados nas forcas por que passaram alguns figurões do regime nazista.
Talvez por não haverem sido justiçados os merecedores e escandalizada a sociedade é que o mundo conheceu e reprovou a sanha alemã mas a repetiu inúmeras vezes, alterando somente o montante de vítimas e as formas de perseguição.
Assim tem sido com os curdos, palestinos, sudaneses, angolanos, ruandeses, hutus, afegãos, libaneses e tantos outros povos ou etnias também sujeitos à mesma intolerância de que Auschwitz é símbolo.
Quantos outros monumentos precisaremos erguer para que o ser humano possa ser um pouco mais tolerante, tentando acreditar que talvez aquele a quem persegue seja também um animal de sua raça?