segunda-feira, 15 de março de 2010

Vinte anos e nenhuma saudade















Sílvio Lanna
Há vinte anos atrás um maluco vestido de presidente da república, assessorado por uma trupe de experimentalistas, tungava as economias dos brasileiros e adotava medidas que explicitavam sua grandiloquência e seus sentimentos de que todo o poder lhe havia sido conferido pelas urnas.
É certo que Collor foi eleito democraticamente, mas também é certo que o voto não concede um mandato em branco.
Os esteios da governabilidade, seja em que nível for, estão constituídos pela estrutura normativa que, diga-se de passagem, já existia e já se impunha antes de sua eleição.
As medidas anunciadas naquela triste data compunham uma estratégia de governo ancorada, entre outras, nas seguintes medidas:
- Confisco monumental de haveres financeiros que se encontravam em mãos de clientes e poupadores bancários.
- Substituição do cruzado novo pelo cruzeiro.
- Tabelamento de preços.
- Congelamento de salários.
- Elevação da carga tributária.
- Redução de gastos públicos.
- Forte programa de privatização de empresas pertencentes ao Estado.
- Abertura do mercado para produtos estrangeiros.
Tratou-se, na realidade, de uma política de estrangulamento da economia nacional. Sem oxigênio, a inflação caiu vigorosamente, justificando o monstrengo chamado Plano Collor I, ao ver de seus criadores.
Ocorre que a economia é formada por um conjunto de fatores interativos e interdependentes, sendo que as alterações efetuadas em alguns deles causam consequências em quase todos os outros (às vezes de forma exponencial). Deviam saber disto os iluminados que tomaram conta do Ministério da Fazenda e demais órgãos econômicos.
A partir daí iniciou-se a maior recessão que o país já conheceu, com quebra em cadeia de empresas (notadamente as de manor porte), fortíssimo desemprego, queda considerável do PIB (que passou de 453 para 433 bilhões de dólares em um ano, além de desajustes estruturais que conduziram ao Plano Collor II, em janeiro de 1991, que acrescentou ao pacote de maldades a desindexação total da economia, o aumento de juros e novo acréscimo de tributos.
Os defensores colloridos alegam que houve redução substancial da inflação e, ainda, que o Plano Real somente alcançou sucesso em razão dos planos Collor.
O raciocínio é completamente obtuso. Seria o mesmo que um dentista arrancar um dente dolorido e em seguida vangoriar-se de que ele jamais doerá...
Afinal de contas, a inflação é consequência de distorções internas da economia. Buscar regulá-la pela recessão (e mesmo assim homeopaticamente) só faria sentido em um quadro onde sua origem residisse em uma demanda por bens e serviços completamente acima das possibilidades da economia, o que definitivamente não era o caso do Brasil.
Basta que comparemos dois indicadores que dão a medida disto: nosso PIB era inferior a US$ 500 bilhões à época de Collor e hoje é superior a US$ 1,5 trilhão (três vezes mais, portanto). Já a população brasileira passou de 146 para 191 milhões (com acréscimo de somente 30%).
Tanto o Produto total quanto o per capita nos indicam, portanto, que não é freando a economia que obtemos estabilidade econômica, muito pelo contrário na maioria das vezes.

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