sábado, 10 de abril de 2010

Intolerância religiosa (de novo!)

Sílvio Lanna
A história da humanidade é repleta de episódios de maior ou menor duração em que mortes e sofrimentos foram causados em nome da religião. Dezenas são os exemplos em que países ou povos se colocam em situações antagônicas sob a ótica da convicção religiosa e, a partir daí, matam, ferem e destroem.
É certo, entretanto, que nos ensinamentos de Jesus não há uma só linha em que Ele tenha orientado seus fiéis a tais comportamentos. Muito pelo contrário, o respeito às desigualdades é tônica não somente do pensamento cristão, mas de todas as orientações e princípios de moral ocidentais e orientais.
Olhando-se com mais acuidade os casos de violência e de guerras praticadas em nome da fé verificamos, entretanto, que eles se prestam a encobrir outros verdadeiros motivos. No correr da história um ponto comum se mostra: as razões centrais são, no mais das vezes, econômicas.
Assim foi com a Guerra dos Trinta Anos, cuja gênese não foi a Reforma, mas, verdadeiramente, as ambições de dominação territorial. Assim também na Irlanda do Norte pela ânsia de poder, bem como no conflito árabe-israelense, que tem por detrás de si um pedaço estratégico do planeta.
Sejam extensos ou localizados, os conflitos de ordem religiosa são em si próprios a síntese da contradição, uma vez que não conseguem amparo em suas respectivas bases filosóficas para as práticas que perpetuam o ódio e a intolerância entre semelhantes.
Recentemente (e novamente!) tivermos aqui mesmo em nosso país - em São Paulo - um odioso exemplo de como não deve agir um cidadão abençoado por convicções cristãs. Uma turma de jogadores do Santos (André, Fábio Costa, Durval, Léo, Robinho, Marquinhos e Neymar) protagonizaram uma lamentável cena em que comprovaram para todos nós que, se lêm mesmo a Bíblia, pouco têm apreendido. Recusaram-se a visitar uma instituição filantrópica denominada Lar Mensageiros da Luz, que abriga crianças e adultos portadores de necessidades especiais, sob o argumento de que ela possui orientação espírita e que eles são evangélicos.
Devido às profundas divergências entre a teologia cristã e os princípios kardecistas é razoável supormos que manifestações sincréticas entre as duas doutrinas são remotas. Não há ecumenismo possível entre ambas. Entretanto, é palavra do Senhor que devamos nos amar uns aos outros e não consta que Jesus tenha imposto qualquer condição para tal prática, como também não há registro de que Ele tenha estabelecido qualquer excessão para esse amor.
Os pacientes que se encontravam na entidade assistencial eram - e continuam sendo - filhos de Deus. A orientação religiosa deles pode até ser considerada equivocada pelos jogadores (como é também por mim), mas isto não é fato que possa justificar qualquer dissensão. Na melhor das hipóteses tais cidadãos, ainda sob o manto da orientação espiritual, deveriam ter aproveitado a visita para cumprir outra das determinações do Senhor: a de evangelizar os povos.
Nós, evangélicos, o somos em razão de um cisma cuja orientação foi filosófica e moral, jamais belicosa ou agressiva. Quem não leva isto em conta ainda não aprendeu nada, apesar dos mais de quinhentos anos já decorridos desde a Reforma.

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