sexta-feira, 25 de junho de 2010

A AMEAÇA DOS TRANSGÊNICOS


Sílvio Lanna
A Comissão Técnica de Biossegurança (CTNBio), órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior teve em sua pauta de junho a liberação do arroz transgênico LL62 para plantio em território brasileiro.
São sementes geneticamente modificadas e patenteadas pela multinacional Bayer para resistir ao uso do agrotóxico glufosinato de amônio (também fabricado pela Bayer). Desta forma, a praga morre mas a planta não sofre nenhum dano. Em consequência aumenta a produtividade, melhora a aparência e cresce o lucro.
Tudo bem, não fossem as acusações que sofrem as variedades transgênicas de arroz, milho, soja e outras. No caso específico do glufosinato que, incorporado ao arroz, passa aos tecidos de seus consumidores após a ingestão, testes efetuados em ratos provocaram, dentre outros males, alterações no sistema nervoso, tremores, consulsões e reações alérgicas. Além disto, ficou comprovado que seus resíduos se acumulam no fígado e nos rins (com consequências certamente perigosíssimas), sendo ainda secretado no leite (o que compromete até mesmo aqueles indivíduos que não participam diretamente de seu consumo).
No aspecto econômico as variedades transgênicas têm também provocado sérios danos. Induzem o surgimento de ervas daninhas dotadas de resistência e possuem alto poder de dominação sobre outras espécies cultivadas em sua vizinhança. Há registros de lavouras inteiras de variedades tradicionais que foram tomadas pelas variedades modificadas, até o ponto que aquelas vieram a desaparecer.
Há também casos de plantas concorrentes, como o arroz vermelho no Rio Grande do Sul. Trata-se de variedade considerada daninha e compatida atualmente com herbicidas específicos. Quando ocorre o cruzamento do transgênico com o vermelho, o que resulta é uma erva prejudicial altamente resistente ao veneno, cujo combate, em princípio, se faz com a utilização de grandes quantidades de produtos químicos, todos prejudiciais à saúde humana.
Entidades como o Greenpeace e a Embrapa vêm continuamente levantando vozes na tentativa de frear a utilização de variedades transgênicas no país, mas as dificuldades são grandes, basicamente por dois fatores:
- Os brasileiros comuns temos pouco conhecimento sobre o tema, que nem mesmo é personagem dos telejornais diários. Assim, aqueles que condenam a manipulação genética de alimentos frequentemente são considerados retrógados e suas tentativas tidas como enfrentamento à modernidade e ao desenvolvimento.
- Os valores envolvidos são gigantescos, uma vez que companhias como a Bayer, a Monsanto e outras pretendem a padronização e a oligopolização da oferta de sementes em todo o mundo. Afinal, uma vez imposta a utilização de seus produtos (devidamente patenteados), que outras empresas poderão competir em custos e preços finais? Acrescente-se a isto o fato de que os defensivos agrícolas para os quais a manipulação foi realizada também são produzidos por elas.
A Bayer já esteve envolvida em vários escândalos ligados à produção de cereais geneticamente modificados. Em 2006 verificou-se que parte dos estoques norte-americanos de arroz estavam irremediavelmente contaminados pela variedade Liberty Link LL601, produzida pela Bayer CropScience. O fato provocou prejuízos de aproximadamente um bilhão e meio de dólares e, quando a contaminação foi percebida, tinha atingido também alguns países importadores do produto. Considera-se que mais de sessenta por cento do volume de exportações foi danificado pelo LL601. Importante lembrarmo-nos de que a utilização dessa variedade foi autorizada pelo governo americano exclusivamente em plantios restritos a lavouras experimentais.
Esse escândalo, principalmente por ter ocorrido nos EUA, serviu para que o resto do mundo prestsse mais atenção ao problema. Assim é que no caso da "nossa semente LL62", as pressões exercidas pelo Greenpeace, Embrapa e outros órgãos científicos nacionais provocaram na Bayer a retirada do pedido de autorização por parte do CNTBio. O processo, há mais de um ano na pauta, foi suspenso, segundo a empresa, para "ampliar o diálogo" com as entidades nacionais.
Mero recuo estratégico, entretanto, pois a empresa temia pela negativa de autorização por parte do órgão estatal. Afinal, o pedido poderá ser novamente colocado em pauta quando a empresa desejar.
É importante, portanto, que nos mantenhamos informados sobre temas coo esses, antes que seja tarde demais e nosso arroz com feijão de todo dia carregue consigo ameaças ainda nem imaginadas por nós.

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