segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Bancada Evangélica



Sílvio Lanna
A mídia destaca notícia segundo a qual nestas eleições de 2010 a "bancada evangélica" da Câmara Federal teria crescido substancialmente, de 43 para 71 deputados. Cabe neste momento discutirmos o que seria tal bancada.
Por que evangélicos, católicos, espíritas, muçulmanos ou qualquer outro grupo religioso teria que possuir representação própria no Legislativo? Acaso não formamos - até por exigência constitucional - um Estado laico?
A razão para tal "especialização" política a meu ver reside na paupérrima estrutura partidária que historicamente mantemos. Nossos partidos, salvo raras exceções, jamais possuíram personalidade própria sob o aspecto filosófico. São meras agremiações muitas vezes dispostas a se bandear da esquerda para a direita (e vice versa) com extrema facilidade, defendendo bandeiras muito semelhantes e, no mais das vezes, prospectando votos sem qualquer escrúpulo ou demonstração de identidade.
Não é à toa que nossos políticos escondem - também com raras exceções - os nomes dos partidos que lhes dão guarita. No fundo o que se persegue é a vitória nas eleições, não importando como. Há ainda as legendas de aluguel, cujo único objetivo é acumular o maior volume de dividendos políticos para que sejam negociados ora com a situação, ora com a oposição, conforme soprem os ventos do poder.
E o que dizer dos partidos "nanicos", sempre dispostos a alugar seus votos, alternando suas posições políticas com a desenvoltura de um acrobata que atua de costas para a plateia? Nesse caldo de cultura surgem as bancadas especializadas, entre as quais a de maior destaque é a evangélica.
Não discordo da necessidade de se discutirem os temas que aparentemente as justificam. É no Congresso, sim, que devemos tratar questões como aborto ou união homossexual. Não são, entretanto, temas cativos de qualquer agremiação em especial, devendo ser objeto de posicionamento de cada partido, segundo sua orientação programática e filosófica.
De minha parte, sou evangélico presbiteriano e confesso que jamais votei em quem quer que seja simplesmente em razão de participar de tais bancadas (muito pelo contrário).
Enquanto o quadro partidário nacional não assumir pública e individualmente sua orientação, seus programas, além de sua conduta objetiva e coerente em face dos problemas nacionais, tais especializações florescerão.
Chega da repetição de que cada candidato defende "tudo pelo social", "políticas de segurança", "educação de qualidade" e outros, como estratégia de quem diz qualquer coisa por não ter nada a dizer...
Chega da falta de personalidade de tantos partidos, chega do oportunismo irresponsável, da pregação vazia, chega de tratar-nos como meras massas de manobra para o atingimento de objetivos escusos.
Infelizmente, porém, enquanto o poder continuar nas mãos ou nos desejos da mesma oligarquia que domina este país há séculos, a política nacional será tratada como mero instrumento e as campanhas continuarão como a atual: elaboradas nas latrinas dos salteadores do Estado.

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