Shakil Afridi é um nome que certamente passaria despercebido da
grande mídia e talvez pudesse viver o resto de seus dias em paz. Tudo isto se
não fosse a tal da dialética que nos força de vez em quando às confrontações e
ao jogo de opostos tão típicos de nossa civilização. Isto sem nos esquecermos
de suas consequências, tudo inserido no princípio hegeliano sempre atual.
É que o ilustre cidadão, médico militante, promoveu uma falsa
campanha de vacinação contra a hepatite para colher material genético dos
habitantes de uma determinada casa situada na cidade de Peshawar. Lá residia
nada menos que Osama Bin Laden, o que restou comprovado pela análise do DNA
colhido.
A partir da atuação do espião improvisado as forças militares americanas
puderam invadir o local e eliminar seu arqui inimigo, sem que tivessem dúvidas
de que o mesmo lá seria encontrado.
Em razão disto foi ele condenado a nada menos que 33 anos de
prisão por haver cometido traição contra seu país.
Ocorre que o próprio Paquistão já havia anteriormente afirmado que
o terrorista não estava em seu país e que se encontrava também dentre aquelas
nações que tentavam sua captura.
Após a invasão norte americana o governo paquistanês não esboçou
qualquer reação internacional (poderia ter protestado junto à ONU e até mesmo
buscado reparação dos EUA), fazendo o mundo crer que autorizara a ação militar
em seu solo.
Além de tudo isto, o planeta inteiro sabe que o Paquistão é
beneficiário de ajuda americana da ordem de bilhões de dólares, não obstante
mantenham eles relações bilaterais das mais tranquilas.
Tem o país o trunfo de sua posição geopolítica, sendo caminho
natural para transporte de tropas da Otan com destino ao Afeganistão, além de
situar-se próximo ao Golfo Pérsico, ao Iran e à Índia, seu histórico inimigo e
que sempre contou com a proteção dos EUA.
A confusão tem ainda um ingrediente literalmente explosivo: o
mundo inteiro sabe que o Paquistão, apesar de não fazer parte do Clube Atômico,
já possui sua bomba. Assim como a Índia - seu vizinho e rival - não assinou o
Tratado de Não Proliferação e mantém-se como potencial ameaça à paz mundial,
acompanhada pela Coréia do Norte, do Irã e de outros.
A situação é de pura dialética.
O imbróglio causado pela condenação do médico terá ainda
como consequências os riscos que sua vida passa a correr a partir da
divulgação, o acirramento da tensão entre EUA e Paquistão e o aumento da
instabilidade na região. Marx, caso aqui pudesse estar, talvez esboçasse um
sorriso irônico...
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