quarta-feira, 23 de novembro de 2016





A REFORMA PROTESTANTE
Segunda parte:
Dissidências e primeiros reformadores - John Wycliffe

O sul da França viu surgir dissidências que questionavam o poder papal e atuação da Igreja. Albigenses e cátaros, dentre outros, pregavam o ascetismo e a prevalência do sentimento religioso e do espírito sobre as questões materiais. Acabaram por ser massacrados pelas Cruzadas e fizeram nascer na Igreja um dos períodos mais negros da história humana – a Santa Inquisição –, tornada mecanismo de afirmação da supremacia do Clero a partir de 1233.

Em meados dos anos 1300 John Wycliffe, sacerdote e professor na Universidade de Oxford, Inglaterra, insurgiu-se fortemente contra o Clero e as práticas por ele impostas aos cristãos. Combateu a veneração de santos e de imagens, criticou a devoção às relíquias, a idéia de purgatório, o celibato, a venda de indulgências, dentre outros.

É considerado verdadeiro precursor da Reforma. De formação culta, mas liberal, passeou por várias áreas de conhecimento. Os estudos filosóficos e a vivência na cátedra lhe proporcionaram disciplina intelectual, solidez nas teses amplitude de idéias. Lutou pela liberdade religiosa ao lado da civil, tornando-se respeitado em seu meio e também na sociedade civil, não deixando, entretanto, de angariar inimigos.

Falava abertamente dos conflitos que enxergava entre os ensinamentos das Sagradas Escrituras e a prática da Igreja, acusando-a de haver banido a Bíblia de seu seio. Sua influência entre os católicos, entretanto, angariou-lhe raiva, despeito e sentimento de vingança por parte das autoridades eclesiásticas.   

Acirrou ainda mais a ira dos prelados religiosos ao afirmar publicamente que o Papa não possuía poderes especiais que ultrapassassem aqueles reservados a quaisquer padres e bispos. Suas falas e artigos literários investiam contra as distorções observadas no cumprimento das Sagradas Escrituras, mas atingiam de cheio a sede de poder dos participantes do Clero. Novamente um movimento ameaçava as riquezas e a dominação – então relativa – dos mandatários católicos.

Nomeado embaixador inglês, teve oportunidade de discutir com emissários e dignatários do poder romano, tendo colhido importantes observações sobre os meandros da Igreja, que ainda não conhecia.

Não fora o poder acumulado por Wycliffe na corte inglesa e a simpatia que lhe dedicava a população teria sofrido um cruel destino. A ira papal determinou seu julgamento, cujo desfecho era previsível. Príncipes e populares pressionaram de tal forma o tribunal eclesiástico fazendo com que não fosse condenado a qualquer pena.

Tal episódio, entretanto, não abafou o desejo de vingança da Igreja. Foi expedida sua ordem de prisão para expiação de pecados na fogueira, com o Clero investindo seus poderes na obtenção de tal resultado. Sorte de John, entretanto, que seu desafeto mais importante, o papa Gregório XI, veio a falecer, dissipando aquelas raivosas investidas sobre sua pessoa.

Wycliffe persistiu na propagação de suas idéias e nas contumazes críticas que fazia ao poder dos dignatários religiosos. Coroando sua atuação como reformista, traduziu a Bíblia para o idioma inglês, permitindo sua propagação entre os fiéis e ampliando o poder da palavra de Deus.


Aos setenta anos de idade foi atacado por moléstias que, mais tarde, lhe ceifaram a vida. Lançou sementes de extrema importância para a Reforma que viria posteriormente a firmar-se em todo o planeta.   

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

segunda-feira, 14 de novembro de 2016


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A REFORMA PROTESTANTE – OS PRÓXIMOS 500 ANOS

É objeto destes artigos traçar modestas linhas a respeito da Reforma Protestante, que cindiu definitivamente a Igreja Católica inaugurando nova visão sobre os ensinamentos da Bíblia. É também seu objetivo participar das comemorações dos quinhentos anos da Reforma. Sua data oficial de nascimento – 31 de outubro de 1517 – nos levará nestes próximos doze meses a 2017 e às necessárias reflexões, autocríticas e orientações para que nos próximos 500 anos também os rumos do protestantismo sejam revistos e aperfeiçoados. Necessário que se expurguem desvios e que se corrijam rumos para a retomada das razões que levaram tantos reformadores a arriscar – e a perder – suas vidas. Acima de tudo, que voltemos a nos submeter aos ensinamentos e às determinações das Sagradas Escrituras como legítima expressão da palavra de Deus. Tudo isto com fé e determinação, mas também com inteligência e perspicácia, que nos foram emprestadas pelo Criador também para verdadeiramente entender suas Palavras. 

Primeira parte:
O surgimento dos Estados Nacionais

O momento histórico pré-Reforma caracterizou-se pelo enfraquecimento do papado. A Igreja Católica, que detinha também o poder político em muitas nações, viu surgirem os Estados Nacionais precursores das modernas nações da Europa. As primeiras idéias de eleição (ainda que indiretas) de imperadores determinou o enfraquecimento dos reis totalitários e do Clero como entidade política. Consequência lógica dessa divisão de poderes foi o tensionamento das relações Igreja-Estado.

Em países como França e Inglaterra os monarcas forçaram a diminuição do poder clerical e começaram a articular organismos que foram a gênese dos parlamentos modernos. Isto por volta dos anos 1250-1320, em plena Idade Média.

Poder também é riqueza material. Bonifácio VIII, um papa que admirava mais as fortunas materiais que as espirituais desentendeu-se com a monarquia francesa em razão da divisão dos impostos. Resultou que acabou preso por Filipe IV, monarca francês, deixando antever para que lado pendeu definitivamente a divisão de poder então em curso.

Em situação muito semelhante à que percebemos em nossos tempos, a perda de poder abre caminho para críticas e faz crescer o coro dos insatisfeitos. As extravagâncias do Clero, sua sede por riquezas e acúmulo de bens materiais começou a se manifestar entre os populares.

Essa sucessão de desventuras acabou por provocar o que veio a ser chamado de “O Grande Cisma”. Após uma série de desavenças e lutas pelo poder, a Igreja Católica cindiu-se, tendo sido criados três papados com líderes distintos. Suas sedes eram em Roma, Pisa e Avignon. Tal situação só gerou o crescimento dos clamores por reformas na Igreja.

Aprofundando-se a constrangedora situação vivida pelo Clero, cada um dos três papas excomungou os demais, rivais no poder e na divisão da riqueza.


Martinho V, eleito papa pelo Concílio de Constança, no início dos anos 1400, unificou a Igreja, tornando-se novamente uno na direção do catolicismo. Além de perseguir os dissidentes, condenou-os, bem como aos pré reformadores João Wycliff, João Hus e Jerônimo de Praga.

domingo, 6 de novembro de 2016


A REFORMA PROTESTANTE – OS PRÓXIMOS 500 ANOS

Nos últimos anos temos visto e participado de intensos debates acerca da intervenção de pastores e de igrejas protestantes (ou que se nomeiam assim) na política e na vida nacional. A polêmica se intensifica, bem como a inserção de pastores, bispos e outros dignatários no cotidiano político brasileiro, notadamente no Legislativo e no Executivo.

São pessoas que falam em nome de Deus e afirmam ter recebido Dele instruções, normas e comportamentos a serem cumpridos na vida nacional.

Os recursos financeiros gerados em nome do dízimo, das contribuições, das doações, do comércio de livros, dvds e de tantos outros produtos fabricados sob o sustentáculo da fé atingem cifras milionárias. Elas se transformam em templos magníficos, fazendas, carros importados, aviões, enfim, toda a sorte de riquezas contra as quais se postaram os reformistas em face da Igreja Católica.

Estarão eles retornando à Idade Média e trazendo para o século XXI todas as práticas combatidas por Calvino, Lutero e outros e que desaguaram na Reforma?

Chegou o tempo da Reforma da Reforma?

As mudanças que originaram as denominações protestantes fundamentaram-se principalmente na alegação de que a Igreja original afastou-se da Palavra de Deus inscrita na Bíblia. A autoridade do Criador foi substituída pela do Clero e as questões espirituais foram suplantadas pelas temporais, com os papas participando ativamente do poder político, financeiro e econômico.

Instrumentos de dominação e crueldade, como as Cruzadas e a Santa Inquisição tentaram preservar o poderio então abalado por tantos desmandos e pelo distanciamento de Deus.

A acumulação de riquezas, a venda de indulgências e a distribuição de benesses entre o alto comando eclesiástico foram duramente combatidas por alguns revolucionários até que o cisma se estabeleceu. A estrutura monolítica da Igreja Católica rachou e deu origem com o passar do tempo a uma diversidade de denominações e seitas de fundamentação bíblica.

Analisando a vida nacional em nossos tempos vislumbramos situações que nos remetem à escuridão espiritual da Idade Média. Pelo menos no que diz respeito aos argumentos lançados pelos reformadores e inscritos, dentre outros, nas 95 teses de Lutero.

Será um processo dialético, uma manifestação cíclica ou simplesmente uma obra de desfaçatez e de pecado?

A data formal de nascimento da Reforma Protestante é 31 de outubro de 1517. Assim sendo, caminhamos para os festejos de seus quinhentos anos.

Festejar é preciso, pois muito se avançou, principalmente em algumas denominações. Mas a festa será despida de qualquer utilidade se não rediscutirmos o tema em seu sentido mais amplo.

Este blogueiro confessa-se protestante, vinculado à Igreja Presbiteriana do Brasil. Mas estas publicações não são um libelo religioso ou mesmo possuem sentido evangelístico. São um alerta, mais que isto, um brado de insatisfação com muitos fatos que permeiam nossos dias em sociedade, onde evangélicos e evangélicos parecem ser farinha do mesmo saco.

Tem o joio e tem o trigo.

Tem, acima de tudo, Deus e sua Palavra a que os crentes devemos nos submeter, com afinco, resignação, inteligência e perspicácia.  

Este blog inicia hoje uma série de publicações semanais, a cada segunda feira, onde serão trazidos à discussão temas como a situação histórico-política na Europa no período pré-Reforma, breve relato sobre vida e obra de alguns dos primeiros reformadores, os dramas e tragédias ocorridos no fim da Idade Média, pequeno histórico sobre vida e obra de Calvino e de Lutero, comparativo entre as teorias propostas por ambos, esclarecimentos sobre a orientação calvinista da Igreja Presbiteriana, igrejas pentecostais, neopentecostais e outras que se dizem evangélicas, rumos da Reforma no século XXI e outros temas afetos à questão central.

Opiniões e críticas serão bem vindas.

Uma boa noite a todos e até a próxima segunda feira.


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A saudade é o que faz as coisas pararem
no Tempo.
Noções
                                                                                                                                                                     Cecília Meireles
Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.
Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.
Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.
Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.
Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera…