A REFORMA PROTESTANTE
Segunda parte:
Dissidências e primeiros reformadores - John Wycliffe
O sul da França viu
surgir dissidências que questionavam o poder papal e atuação da Igreja.
Albigenses e cátaros, dentre outros, pregavam o ascetismo e a prevalência do
sentimento religioso e do espírito sobre as questões materiais. Acabaram por
ser massacrados pelas Cruzadas e fizeram nascer na Igreja um dos períodos mais
negros da história humana – a Santa Inquisição –, tornada mecanismo de
afirmação da supremacia do Clero a partir de 1233.
Em meados dos anos
1300 John Wycliffe, sacerdote e professor na Universidade de Oxford,
Inglaterra, insurgiu-se fortemente contra o Clero e as práticas por ele
impostas aos cristãos. Combateu a veneração de santos e de imagens, criticou a
devoção às relíquias, a idéia de purgatório, o celibato, a venda de
indulgências, dentre outros.
É considerado
verdadeiro precursor da Reforma. De formação culta, mas liberal, passeou por
várias áreas de conhecimento. Os estudos filosóficos e a vivência na cátedra
lhe proporcionaram disciplina intelectual, solidez nas teses amplitude de idéias.
Lutou pela liberdade religiosa ao lado da civil, tornando-se respeitado em seu
meio e também na sociedade civil, não deixando, entretanto, de angariar
inimigos.
Falava abertamente
dos conflitos que enxergava entre os ensinamentos das Sagradas Escrituras e a
prática da Igreja, acusando-a de haver banido a Bíblia de seu seio. Sua
influência entre os católicos, entretanto, angariou-lhe raiva, despeito e sentimento
de vingança por parte das autoridades eclesiásticas.
Acirrou ainda mais a
ira dos prelados religiosos ao afirmar publicamente que o Papa não possuía
poderes especiais que ultrapassassem aqueles reservados a quaisquer padres e
bispos. Suas falas e artigos literários investiam contra as distorções
observadas no cumprimento das Sagradas Escrituras, mas atingiam de cheio a sede
de poder dos participantes do Clero. Novamente um movimento ameaçava as
riquezas e a dominação – então relativa – dos mandatários católicos.
Nomeado embaixador
inglês, teve oportunidade de discutir com emissários e dignatários do poder
romano, tendo colhido importantes observações sobre os meandros da Igreja, que
ainda não conhecia.
Não fora o poder
acumulado por Wycliffe na corte inglesa e a simpatia que lhe dedicava a
população teria sofrido um cruel destino. A ira papal determinou seu
julgamento, cujo desfecho era previsível. Príncipes e populares pressionaram de
tal forma o tribunal eclesiástico fazendo com que não fosse condenado a
qualquer pena.
Tal episódio,
entretanto, não abafou o desejo de vingança da Igreja. Foi expedida sua ordem
de prisão para expiação de pecados na fogueira, com o Clero investindo seus
poderes na obtenção de tal resultado. Sorte de John, entretanto, que seu
desafeto mais importante, o papa Gregório XI, veio a falecer, dissipando aquelas
raivosas investidas sobre sua pessoa.
Wycliffe persistiu na
propagação de suas idéias e nas contumazes críticas que fazia ao poder dos
dignatários religiosos. Coroando sua atuação como reformista, traduziu a Bíblia
para o idioma inglês, permitindo sua propagação entre os fiéis e ampliando o
poder da palavra de Deus.
Aos setenta anos de
idade foi atacado por moléstias que, mais tarde, lhe ceifaram a vida. Lançou
sementes de extrema importância para a Reforma que viria posteriormente a
firmar-se em todo o planeta.
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