Tenho duas certidões
de nascimento, graças a Deus. A primeira, arquivada no Cartório do
Registro Civil de Pessoas Naturais da minha querida Rio Casca. A outra, bem
mais antiga, esteve afixada na porta da capela da cidade de Lutherstadt Wittenberg na Alemanha, em 31 de outubro de 1517. Na primeira, o
Oficial do Cartório registrou minha genealogia próxima e outros dados civis. Na
segunda Lutero listou os 95 princípios norteadores de uma revolucionária visão da
cristandade.
Os protestantes
nascemos da Reforma luterana e os presbiterianos abraçamos também – e em
especial – a visão calvinista, eis que alcançados pela extensão e pela
importância do Batismo, dentre outras princípios presentes nas Institutas.
Importa refletirmos
sobre o que significa sermos protestantes, já transcorrido meio século de nossa
gênese. Importa ainda relembrarmos que a Reforma foi um ato de pura subversão
das ideias reinantes. Os reformadores praticaram atos de guerrilha, foram
queimados, excomungados, presos ou torturados, mas mudaram o mundo.
Lutero, Calvino, Wesley, Zwinglio,
Farel, Knox e tantos outros afrontaram a poderosa Igreja Católica e o poder
político a ela vinculado, criando alternativas e combatendo a exploração dos
fiéis, a venda de indulgências e da vida eterna, desmistificando a absoluta
soberania dos prelados que atuavam falsamente em nome de Deus.
Copiaram eles o supremo ato de
enfrentamento praticado outro subversivo que, quase sozinho, lutou contra o
Império Romano, pagou com a vida, mas espalhou sua doutrina pelos quatro cantos
do mundo. Cristo é o filho de Deus, que lutou
contra poderosos e enfrentou o poder instituído e quase inabalável. Assim o fez
em nome do Pai.
Viveu a simplicidade entre os mais
simples e jamais se utilizou de suas prerrogativas para engrandecer-se perante
os demais.
Defendeu e respeitou as mulheres
quando ninguém o fazia.
Jamais se curvou perante o poder, a
não ser à força, quando vilipendiado por seus torturadores.
Suas vestes não eram costuradas com fios
de ouro e sobre sua cabeça não repousava qualquer coroa ou solidéu.
Não tinha títulos de nobreza ou de grandeza,
era apenas Jesus.
O Santo Graal possivelmente era de
tosca madeira e a mesa da Santa Ceia somente uma laje de pedra.
Jamais vendeu seus milagres ou pedaços
de suas vestes.
Nunca condenou seus desafetos ao fogo
ou à expiação.
Essa igreja de Cristo é a verdadeira
igreja da Reforma. Muitos se esqueceram disto e mantêm templos que se intitulam
evangélicos, para praticar iniquidades mais semelhantes ao catolicismo medieval
que à nova visão religiosa que alegadamente professam. Não merecem o título que
ostentam.
Intitular-se protestante e vender
areias e águas bentas por humanos impuros é heresia. Falar em nome do Senhor e
promover espetáculos de exploração da fé pública é puro pecado. Uma coisa é
certa: não são dignos da Reforma e, portanto, não são protestantes. Mais se
assemelham a lobos sob trajes de cordeiros sob o comando de alguém que,
certamente, não é o Pai.
É como lemos em 1 Pedro
3:3-4: “O vosso adorno não seja o enfeite
exterior, como as tranças dos cabelos, o uso de jóias de ouro, ou o luxo dos
vestidos, mas seja o do íntimo do coração, no incorruptível traje de um
espírito manso e tranqüilo, que és, para que permaneçam as coisas.”
A Reforma
cindiu o povo de Deus, rompendo a aparente união cristã que até então era
mantida, porém ao largo da palavra de Deus. É como disse Lutero: “É melhor ser dividido pela verdade que unido
pelo erro”.
Sigamos,
cindidos porém buscando a união dos filhos de Deus. Uma condição, porém, é
imprescindível: que o caminho pelos próximos 500 anos seja na trilha da verdade
e ao amparo da fé, ornados pela simplicidade e atentos unicamente à Palavra.
Amém.