domingo, 17 de dezembro de 2017

AS AVENTURAS DE BITCOIN NO REINO DA FANTASIA



Para falarmos dos Bitcoins precisamos, antes, considerar outros termos típicos da ciência econômica, quais sejam: BOLHA, PIRÂMIDE e RISCO.

Por bolha entendemos uma situação de euforia e de ganhos financeiros acompanhados da sensação de boas oportunidades, mas que não possui o devido lastro. Ou seja, assemelha-se a uma bolha de sabão, que é colorida, exuberante, apresenta grande expansão, mas é débil, delicada e quando estoura possui apenas ar em seu interior. A bolha, portanto, é fruto de pura especulação.

 Por pirâmide entendemos o golpe financeiro tantas vezes aplicado em nosso país. É um aparente investimento que costuma oferecer condições mirabolantes, altos rendimentos e uma ilusão de garantia representada pela promessa de ganhos mínimos consideráveis. O nome advém da situação dos participantes, que formam uma espécie de pirâmide à medida em que as operações aumentam, criando uma grande base que vai se estreitando até o topo, onde se encontram os verdadeiros ganhadores. Ou seja, os criadores e os primeiros investidores, que ficam no alto, ganham bastante dinheiro. À medida em que nos aproximamos da base, os prejuízos tendem a aumentar. Os últimos “investidores” têm os maiores prejuízos, chegando a perder absolutamente tudo o que aplicaram. Como exemplos tivemos no Brasil as operações com boi gordo, com avestruzes, containers para locação e muitos outros.

Quanto ao risco, é uma condição sempre presente em investimentos não conservadores. Os fundos em geral, aí incluídos os cambiais, de ações e de commodities, bem como as operações com dólar físico, mercados futuros, derivativos e tantos outros, têm rentabilidades, prazos e condições diversas, mas em comum possuem o risco. Também este é variável de intensidade, variando entre os moderados (lastreados parcialmente por garantias, como o hedge) e os arrojados ou agressivos, onde o perigo de perda é grande, sem qualquer lastro. Óbvio que maior risco representa consequentemente a possibilidade de grandes lucros ou amargos prejuízos.

Bitcoin é uma das espécies de criptomoedas, mas não é a mais recente. Diversas vieram antes dela, mas jamais atingiram seu grau de demanda. Trata-se de moeda virtual que não possui controladores, nação, depósito material ou mesmo produção física. Coisa de Internet, que também é uma rede imensa, complexa, repleta de trilhas e desvios, mas que não existe materialmente. As compras e vendas dos bitcoins são efetuadas por operadores virtuais, em transações eletrônicas que impõem um preço para compra e outro para a venda (como se faz nas operações com moedas estrangeiras).

As operações são bem simples: o saldo em moeda nacional existente em conta bancária do investidor é trocado pela moeda eletrônica na cotação de compra do momento, constituindo-se em sua carteira virtual e vendida posteriormente (a critério do titular), pela cotação de venda. No primeiro momento, o investidor emite uma ordem de compra e no segundo (quando desejar), emite uma ordem de venda.

Para controlar seus investimentos, bem como os respectivos créditos e débitos e as cotações virtuais, o investidor maneja seu dashboard, espécie de extrato virtual amigável e de simples operacionalidade.

E os riscos dos bitcoins? São muitos e absolutamente imprevisíveis.

Trata-se de operações sem a menor fiscalização do Estado, dos bancos centrais, das autoridades monetárias e de valores mobiliários, sem endereço e sem qualquer controle por parte dos investidores. As fantásticas valorizações que vêm ocorrendo nesse mercado podem refletir:

- O "comportamento de manada" (que é o aporte de multidões de aplicadores incentivados por outros anteriores – “maria vai com as outras”) e que não reflete uma situação real de oferta e demanda, mas apenas entusiasmo repentino e às vezes passageiro.

- Forte entrada de capitais de operações criminosas, como tráfico de drogas, de armas, de pessoas e outras, em busca de condições propícias para sua “lavagem de dinheiro”. Não é, portanto, companhia recomendável para investidores verdadeiros.

- Desejo de grupos terroristas esconderem e “lavarem” seus capitais, bem como transferi-los mais facilmente para compra de armas, explosivos e pagamento de integrantes. Já houve comprovação (inclusive com prisão de suspeitos) de que o Exército Islâmico vem utilizando os bitcoins para esse fim.

- Uma imensa bolha financeira não sustentada pelo mercado formal e que pode explodir a qualquer momento, deprimindo fortemente suas cotações. Consideremos que o comércio físico ou mesmo o e-commerce ainda não aceita em sua totalidade os bitcoins como forma de pagamento, mesmo com a crise de vendas que enfrenta atualmente.

Enfim, é um mercado financeiro virtual que se posta no mesmo caminho dos bancos on line que já operam fartamente do Brasil e no resto do mundo. É tendência que veio para ficar, até mesmo com o encolhimento das instituições que operam fisicamente.

As moedas virtuais continuarão a existir e certamente se integrarão ao mercado de comércio e indústria, convertendo-se em verdadeiros meios de pagamento e de investimento. Farão parte do mundo e da vida de cada um de nós no futuro próximo. Para isto deverão ser regulamentadas e efetivamente fiscalizadas pelo Estado e por quem de direito.

Por enquanto são um imenso risco. Coisa para profissionais e entendedores.

Amadores só servem, nesta situação, de massa de manobra para a obtenção de gordos lucros pelas raposas de plantão.


Uma fantasia que pode custar muito caro!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

EUA TRANSFEREM EMBAIXADA PARA JERUSALÉM. E NÓS COM ISTO???



Perguntem a alguém qual a capital de Israel e muitos dirão de imediato: TEL AVIV.

Muitos não sabem, entretanto, que Jerusalém é a verdadeira capital política do país desde 1950 (pouco após a criação do Estado de Israel). Assim foi declarada após os primeiros embates militares entre judeus e árabes.

Tel Aviv é, na realidade, o centro financeiro (como São Paulo é para o Brasil). Entretanto, por razões políticas e estratégicas as embaixadas lá se situam, e não na sede política.

Jerusalém (assim como Israel de uma forma geral) é um território extremamente estratégico. Próximo a diversas nações árabes, potencial ou abertamente hostis, tem seu território oriental há muito reivindicado pelo povo palestino. Nenhuma conceituação melhor para lá que barril de pólvora cujo rastilho já se acendeu várias vezes e cuja explosão ameaça a cada momento, apenas alternando-se entre maior ou menor risco.

É uma cidade única no mundo por ser disputada avidamente por três religiões distintas, CRISTIANISMO, JUDAÍSMO e ISLAMISMO. Destruída, reerguida, atacada e renascida no correr da história, vem sendo objeto de disputas políticas e militares há séculos.

Divide-se informalmente em distritos (ou bairros) habitados por integrantes das três religiões, que mantêm conflitos explícitos ou velados todo o tempo. A região de domínio judeu é onde fica, dentre outros, o Muro das Lamentações (local onde Abraão ofereceu seu filho ao sacrifício, conforme a Bíblia). A região cristã contempla o local onde estaria o Santo Sepulcro, o Calvário e outros locais sagrados. Na parte muçulmana fica a mesquita de Al-Aqsa, um dos monumentos sagrados para os muçulmanos e foco de grandes peregrinações de fiéis.

Jerusalém é um exemplo bem acabado do paradoxo religioso: a religião, criada sob o fundamento do religare latino é objeto hoje de tanta desunião e tantas guerras. Quantos já morreram por suas crenças e quantos já mataram em nome delas? Com toda a certeza Jeová, Deus ou Allah não aprovam isto (ou não aprovariam, como quiserem alguns).

O domínio institucional e militar é dividido entre os judeus e os palestinos, que também reivindicam o local para a capital de seu Estado em formação. Hoje mais de 100 nações independentes reconhecem a Autoridade Palestina como ente político, em um caminhar que se originou com a OLP e que fatalmente levará à instituição de um Estado independente, ainda que após muito derramamento de sangue.

Em meio a esse caldeirão fervilhante de interesses políticos, econômicos, estratégicos e religiosos aparece Trump com mais uma das suas: a transferência da embaixada americana (atualmente em Tel Aviv) para Jerusalém.

O presidente norte americano tem sido forçado a engolir de forma enviesada o líder norte-coreano Kim Jong-un, que o enfrenta sistematicamente. A supremacia da maior potência bélica do planeta tem sido provocada pela versão asiática do “Rato que Ruge” (nenhuma comparação entre Peter Sellers e o líder coreano, obviamente). Talvez seja esse o motivo para a emblemática transferência da representação diplomática.

Em termos práticos, aparentemente significaria apenas uma medida administrativa. Em termos geopolíticos, entretanto, equivale à oficial declaração dos EUA admitindo Jerusalém como território sob a soberania israelense, em detrimento dos anseios da comunidade árabe internacional. Representa também a tomada de posição do país mais poderoso do mundo no conflito árabe-israelense, após reiteradas tentativas – inclusive de presidentes anteriores – no sentido da paz e da coabitação entre as partes em litígio.

Tomar parte abertamente em favor de uma das faces do conflito, em qualquer situação que se apresente, é renunciar à tentativa de acordo e abandonar a paz como meta. Um simples ato como este tomado por Trump pode desencadear mais conflitos, centenas de mortes e até mesmo uma nova guerra na região.
Esquece-se ele ainda que o mundo globalizado (estratégia diuturnamente defendida pelo capitalismo americano) também internacionaliza conflitos. Que o digam o Estado Islâmico e a al-Qaeda, que em sequência às intervenções militares  na África e na Ásia expandem suas agressões à Europa e aos EUA, na esteira do frissom econômico-financeiro global.

E nós com isto?

Tudo temos a ver em um planeta que transmite ao vivo as agressões entre potências, reverbera pela comunicação eletrônica ameaças e vírus e, na ocorrência de uma guerra de grandes proporções, colocar-nos-á no interior do cenário bélico. Já passou o tempo em que os atentados eram só um problema das partes envolvidas. Hoje a bomba detonada Avenue d'Lèna em Paris  ou o atentado que atinge o metrô em Londres lançam seus estilhaços no  sofá do brasileiro que assiste ao programa jornalístico noturno.

Não dá mais para considerarmos o que acontece do outro lado do mundo como “coisa de estrangeiro”. É problema nosso e, se não contribuímos diretamente para suas causas, poderemos participar ativamente de suas consequências...