quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

EUA TRANSFEREM EMBAIXADA PARA JERUSALÉM. E NÓS COM ISTO???



Perguntem a alguém qual a capital de Israel e muitos dirão de imediato: TEL AVIV.

Muitos não sabem, entretanto, que Jerusalém é a verdadeira capital política do país desde 1950 (pouco após a criação do Estado de Israel). Assim foi declarada após os primeiros embates militares entre judeus e árabes.

Tel Aviv é, na realidade, o centro financeiro (como São Paulo é para o Brasil). Entretanto, por razões políticas e estratégicas as embaixadas lá se situam, e não na sede política.

Jerusalém (assim como Israel de uma forma geral) é um território extremamente estratégico. Próximo a diversas nações árabes, potencial ou abertamente hostis, tem seu território oriental há muito reivindicado pelo povo palestino. Nenhuma conceituação melhor para lá que barril de pólvora cujo rastilho já se acendeu várias vezes e cuja explosão ameaça a cada momento, apenas alternando-se entre maior ou menor risco.

É uma cidade única no mundo por ser disputada avidamente por três religiões distintas, CRISTIANISMO, JUDAÍSMO e ISLAMISMO. Destruída, reerguida, atacada e renascida no correr da história, vem sendo objeto de disputas políticas e militares há séculos.

Divide-se informalmente em distritos (ou bairros) habitados por integrantes das três religiões, que mantêm conflitos explícitos ou velados todo o tempo. A região de domínio judeu é onde fica, dentre outros, o Muro das Lamentações (local onde Abraão ofereceu seu filho ao sacrifício, conforme a Bíblia). A região cristã contempla o local onde estaria o Santo Sepulcro, o Calvário e outros locais sagrados. Na parte muçulmana fica a mesquita de Al-Aqsa, um dos monumentos sagrados para os muçulmanos e foco de grandes peregrinações de fiéis.

Jerusalém é um exemplo bem acabado do paradoxo religioso: a religião, criada sob o fundamento do religare latino é objeto hoje de tanta desunião e tantas guerras. Quantos já morreram por suas crenças e quantos já mataram em nome delas? Com toda a certeza Jeová, Deus ou Allah não aprovam isto (ou não aprovariam, como quiserem alguns).

O domínio institucional e militar é dividido entre os judeus e os palestinos, que também reivindicam o local para a capital de seu Estado em formação. Hoje mais de 100 nações independentes reconhecem a Autoridade Palestina como ente político, em um caminhar que se originou com a OLP e que fatalmente levará à instituição de um Estado independente, ainda que após muito derramamento de sangue.

Em meio a esse caldeirão fervilhante de interesses políticos, econômicos, estratégicos e religiosos aparece Trump com mais uma das suas: a transferência da embaixada americana (atualmente em Tel Aviv) para Jerusalém.

O presidente norte americano tem sido forçado a engolir de forma enviesada o líder norte-coreano Kim Jong-un, que o enfrenta sistematicamente. A supremacia da maior potência bélica do planeta tem sido provocada pela versão asiática do “Rato que Ruge” (nenhuma comparação entre Peter Sellers e o líder coreano, obviamente). Talvez seja esse o motivo para a emblemática transferência da representação diplomática.

Em termos práticos, aparentemente significaria apenas uma medida administrativa. Em termos geopolíticos, entretanto, equivale à oficial declaração dos EUA admitindo Jerusalém como território sob a soberania israelense, em detrimento dos anseios da comunidade árabe internacional. Representa também a tomada de posição do país mais poderoso do mundo no conflito árabe-israelense, após reiteradas tentativas – inclusive de presidentes anteriores – no sentido da paz e da coabitação entre as partes em litígio.

Tomar parte abertamente em favor de uma das faces do conflito, em qualquer situação que se apresente, é renunciar à tentativa de acordo e abandonar a paz como meta. Um simples ato como este tomado por Trump pode desencadear mais conflitos, centenas de mortes e até mesmo uma nova guerra na região.
Esquece-se ele ainda que o mundo globalizado (estratégia diuturnamente defendida pelo capitalismo americano) também internacionaliza conflitos. Que o digam o Estado Islâmico e a al-Qaeda, que em sequência às intervenções militares  na África e na Ásia expandem suas agressões à Europa e aos EUA, na esteira do frissom econômico-financeiro global.

E nós com isto?

Tudo temos a ver em um planeta que transmite ao vivo as agressões entre potências, reverbera pela comunicação eletrônica ameaças e vírus e, na ocorrência de uma guerra de grandes proporções, colocar-nos-á no interior do cenário bélico. Já passou o tempo em que os atentados eram só um problema das partes envolvidas. Hoje a bomba detonada Avenue d'Lèna em Paris  ou o atentado que atinge o metrô em Londres lançam seus estilhaços no  sofá do brasileiro que assiste ao programa jornalístico noturno.

Não dá mais para considerarmos o que acontece do outro lado do mundo como “coisa de estrangeiro”. É problema nosso e, se não contribuímos diretamente para suas causas, poderemos participar ativamente de suas consequências...

  

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