Perguntem a alguém qual a capital
de Israel e muitos dirão de imediato: TEL AVIV.
Muitos não sabem, entretanto, que
Jerusalém é a verdadeira capital política do país desde 1950 (pouco após a criação
do Estado de Israel). Assim foi declarada após os primeiros embates militares entre
judeus e árabes.
Tel Aviv é, na realidade, o
centro financeiro (como São Paulo é para o Brasil). Entretanto, por razões
políticas e estratégicas as embaixadas lá se situam, e não na sede política.
Jerusalém (assim como Israel de
uma forma geral) é um território extremamente estratégico. Próximo a diversas
nações árabes, potencial ou abertamente hostis, tem seu território oriental há
muito reivindicado pelo povo palestino. Nenhuma conceituação melhor para lá que
barril de pólvora cujo rastilho já se acendeu várias vezes e cuja explosão
ameaça a cada momento, apenas alternando-se entre maior ou menor risco.
É uma cidade única no mundo por
ser disputada avidamente por três religiões distintas, CRISTIANISMO, JUDAÍSMO e
ISLAMISMO. Destruída, reerguida, atacada e renascida no correr da história, vem
sendo objeto de disputas políticas e militares há séculos.
Divide-se informalmente em distritos
(ou bairros) habitados por integrantes das três religiões, que mantêm conflitos
explícitos ou velados todo o tempo. A região de domínio judeu é onde fica,
dentre outros, o Muro das Lamentações (local onde Abraão ofereceu seu filho ao
sacrifício, conforme a Bíblia). A região cristã contempla o local onde estaria
o Santo Sepulcro, o Calvário e outros locais sagrados. Na parte muçulmana fica a
mesquita de Al-Aqsa, um dos monumentos sagrados para os muçulmanos e foco de
grandes peregrinações de fiéis.
Jerusalém é um exemplo bem
acabado do paradoxo religioso: a religião, criada sob o fundamento do religare latino é objeto hoje de tanta
desunião e tantas guerras. Quantos já morreram por suas crenças e quantos já
mataram em nome delas? Com toda a certeza Jeová, Deus ou Allah não aprovam isto
(ou não aprovariam, como quiserem alguns).
O domínio institucional e militar
é dividido entre os judeus e os palestinos, que também reivindicam o local para
a capital de seu Estado em formação. Hoje mais de 100 nações independentes
reconhecem a Autoridade Palestina como ente político, em um caminhar que se
originou com a OLP e que fatalmente levará à instituição de um Estado
independente, ainda que após muito derramamento de sangue.
Em meio a esse caldeirão
fervilhante de interesses políticos, econômicos, estratégicos e religiosos
aparece Trump com mais uma das suas: a transferência da embaixada americana (atualmente
em Tel Aviv) para Jerusalém.
O presidente norte americano tem
sido forçado a engolir de forma enviesada o líder norte-coreano Kim Jong-un,
que o enfrenta sistematicamente. A supremacia da maior potência bélica do
planeta tem sido provocada pela versão asiática do “Rato que Ruge” (nenhuma
comparação entre Peter Sellers e o líder coreano, obviamente). Talvez seja esse
o motivo para a emblemática transferência da representação diplomática.
Em termos práticos, aparentemente
significaria apenas uma medida administrativa. Em termos geopolíticos,
entretanto, equivale à oficial declaração dos EUA admitindo Jerusalém como
território sob a soberania israelense, em detrimento dos anseios da comunidade
árabe internacional. Representa também a tomada de posição do país mais
poderoso do mundo no conflito árabe-israelense, após reiteradas tentativas –
inclusive de presidentes anteriores – no sentido da paz e da coabitação entre
as partes em litígio.
Tomar parte abertamente em favor
de uma das faces do conflito, em qualquer situação que se apresente, é renunciar
à tentativa de acordo e abandonar a paz como meta. Um simples ato como este
tomado por Trump pode desencadear mais conflitos, centenas de mortes e até
mesmo uma nova guerra na região.
Esquece-se ele ainda que o mundo
globalizado (estratégia diuturnamente defendida pelo capitalismo americano) também
internacionaliza conflitos. Que o digam o Estado Islâmico e a al-Qaeda, que em sequência
às intervenções militares na África e na
Ásia expandem suas agressões à Europa e aos EUA, na esteira do frissom econômico-financeiro global.
E nós com isto?
Tudo temos a ver em um planeta
que transmite ao vivo as agressões entre potências, reverbera pela comunicação eletrônica
ameaças e vírus e, na ocorrência de uma guerra de grandes proporções, colocar-nos-á
no interior do cenário bélico. Já passou o tempo em que os atentados eram só um
problema das partes envolvidas. Hoje a bomba detonada Avenue d'Lèna em Paris ou o atentado que atinge o metrô em Londres
lançam seus estilhaços no sofá do
brasileiro que assiste ao programa jornalístico noturno.
Não dá mais para considerarmos o
que acontece do outro lado do mundo como “coisa de estrangeiro”. É problema
nosso e, se não contribuímos diretamente para suas causas, poderemos participar
ativamente de suas consequências...
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